Eu estava fodida. Completamente fodida. Não havia restado nada, tudo havia sido entregue de bom grado àquele outro. Já não fazia a menor ideia de em que mesa de bar ou na cama de que puta ele havia largado meu coração.
Então você apareceu. Você e seu sorriso sem graça. Você e seu gosto mediano pra música, seu curso chatinho na faculdade, sua falta de brilho. Morno, pálido, cheiro de escritório. E então eu não me apaixonei.
Nós nunca discutimos, nunca gritamos um com o outro. Nunca derrubamos uma lágrima sequer. Nunca trocamos um abraço de conforto. Você nunca precisou me tomar nos seus braços, enxugar minhas lágrimas e me dizer que tudo ficaria bem e então me beijar, como se com um beijo todas as mazelas pudessem ser sugadas, transmutadas em vontade. Trepávamos mornamente, e meu único prazer naquela cama era o de me espreguiçar e sentir o roçar do edredon na minha pele.
Permanecemos assim, e achava que isso era tudo o que eu poderia ter, porque eu estava vazia. Veja bem, há um preço em estar viva e eu não tinha como pagar. Até o dia que tive.
Foi quando eu percebi que ali não era meu lugar e me despedi. E então você finalmente gritou. Xingou, mordeu, agrediu e chorou. Chorou como gente grande e pediu pra eu ficar, porque me amava. E naquele momento, eu quase te amei, eu juro. Foi o mais próximo de amor que eu cheguei em todos aqueles meses, mas eu não podia mais ficar. Uma quase paixão me inundou e foi o que me deu forças para seguir, na direção oposta à sua.
Eu era uma filha da puta.
2 comentários:
Para quem será que foi este post?
É pura ficção ou extrapolação de uma realidade que não aconteceu, pode ficar sussa.
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