Era uma caixa bem bonita, dessas com forro de veludo e um fundo falso, para que se guarde as coisas importantes ali, ou aquilo que não deve ser visto. Foi ali, no fundo falso que eu guardei meu coração e minhas esperanças, não porque eram importantes (eu não sabia o quão valioso um coração podia ser), mas porque eu não queria nunca mais que alguém os encontrassem.
Da ultima vez deu um certo trabalho colocar as coisas no lugar. Ignorei tantos avisos. Meus amigos, qualquer gota de razão que eu tenha bebido acidentalmente, a sorte do biscoito chinês. Era uma bagunça tão grande que eu cheguei a pensar que era melhor acabar com tudo aquilo e recomeçar do zero, de outra forma, numa outra vida. Decidi ficar com essa vida mesmo e com a caixa do forro de veludo. Seria meu escudo e meu caixão, onde todas as coisas preciosas seriam enterradas, não por vontade, mas por sobrevivência. Era isso ou ficaria andando com meu coração exposto, jorrando sangue nos transeuntes desavisados. Ninguém quer ver um coração pulsante, incomoda.
Eu tinha tanta certeza de que tinha dado certo, que quando ele voltou, eu não tive medo. "Não há mais nada aqui para ele bagunçar. Não há mais nada aqui." E esse é o mal de ser uma boa contadora de histórias : você acaba acreditando nas suas próprias mentiras e esquece a caixa aberta. Imbecil.
Ele sentiu o cheiro de sangue e foi o mais fundo que pode. Ele comeu meu coração e minhas esperanças e me deixou sozinha. Eu e minha caixa. Vazias.
Eu tinha tanta certeza de que tinha dado certo, que quando ele voltou, eu não tive medo. "Não há mais nada aqui para ele bagunçar. Não há mais nada aqui." E esse é o mal de ser uma boa contadora de histórias : você acaba acreditando nas suas próprias mentiras e esquece a caixa aberta. Imbecil.
Ele sentiu o cheiro de sangue e foi o mais fundo que pode. Ele comeu meu coração e minhas esperanças e me deixou sozinha. Eu e minha caixa. Vazias.
Não há mais nada aqui.
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