30 de jan. de 2014

Estes não são meus sapatos.

Eu não quis te acordar quando, no meio da noite, entendi que aqui não era mais meu lugar. Você dormia tão calma, um suspiro pesado e a boca entreaberta. Eu invejei um pouco a sua tranquilidade, eu invejei você saber o que eu não sei. Você tem sorte, eu acho.

Não é como se eu estivesse no fundo do poço, porque lá eu ao menos tocaria os pés no chão e tomaria impulso para subir. Eu estou no meio, suspenso. É um esforço tremendo tentar chegar até a borda, e talvez seja mortal tentar alcançar o fundo. É repleto do silêncio de palavras desconexas que não me fazem sentido, o silêncio de uma multidão que eu preferiria ignorar. A mesma multidão que só me empurra, que vira correnteza nesse oceano, que define minha rota. E eu não gosto dessa sensação, entende? Eu preciso ter o mínimo de controle sobre as coisas, sobre mim mesmo.

Eu não quis te acordar quando eu acordei. Você parecia confortável demais nessa vida, nessa cama. E essa não é a minha vida, ou a minha cama. Ou era, mas eu não me sinto confortável em mais nada disso. E esse talvez não seja eu.

Fiz as malas em silêncio.

E não sei para onde ir.

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