Peguei o tubo de cola branca no velho estojo. Sequer faço ideia de quanto tempo havia passado desde a última vez que mexi nesse estojo, nessa cola, nessas coisas. Tudo se tornara desbotado.
Abri o tubo e deixei o líquido branco e grosso escorrer pelas minhas mãos. O cheiro forte, plástico. A cola deslizava viscosa, fria, familiar. Fiquei observando aquela grossa e maleável camada secar, transmutar-se do branco para o transparente. Muitas horas se passaram até aquele momento. Fiquei imóvel, deixei que a cola tomasse a minha forma, a minha cor. Era parte de mim, minha armadura despolida.
Foi então que eu deixei de pertencer. Sem ao menos contar até três, arranquei aquela camada diáfana e observei as marcas de meus poros dela. Simulacro de pele, de proteção. Feito cobra, cresci.
Me livrei da pele antiga e me observei em carne viva. Me refiz no frágil, desconheci parte de mim.
Meus pedaços não me pertencem.
Um comentário:
Eu também adorava fazer isso.
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