-as que comem primeiro a mistura e depois a comida;
-as que comem a mistura e a comida ao mesmo tempo;
-as que deixam a mistura (que é claramente a melhor parte da comida) pro final.
Eu sou o terceiro tipo de pessoa.
Se eu e você tivéssemos 7 anos agora, e nos encontrássemos numa festinha, você me veria com um pratinho de doces nas mãos. E eles seriam comidos na seguinte ordem: brigadeiro, beijinho, cajuzinho. Porque brigadeiro mamãe faz em casa, beijinho já é mais raro. Mas cajuzinho, ah. Cajuzinho só em festa. E você também me veria separando cobertura e recheio do bolo, desmembrando calmamente o pedaço de doce, com alguma precisão. E então me observaria comendo a massa e guardando todo aquele recheio e cobertura pro final. Quando então ambos também não existissem mais no prato, seria hora da cereja. Porque assim como o cajuzinho, a gente só come cereja em bolo de festa. É um evento único. Merece ter um momento só dele, e não se perder naquela maçaroca de glacê e massa de bolo.Veja bem, eu desconfiguro tudo, para então saborear as coisas do meu jeito. Porque o que é de fato bom, eu quero por inteiro, da forma mais intensa possível.
Eu cresci fazendo isso com a comida, não me espantei quando percebi que fazia isso com tudo. Minha vida, esse amontoado de peças desconectadas, onde eu vou fazendo uso e me contentando com o que menos me agrada para deixar a melhor parte pro final. O que eu não sabia é que, na vida adulta, as coisas são diferentes. Pessoas não são bolos e não esperam passivamente pela hora delas. Pessoas se vão. Sentimentos também.
O tempo corre diferente na vida adulta. Deixar um sentimento bom pro final pode significar comer comida azeda, passada, estragada. Pode significar não haver mais nada ali. Mas havia um bolo, eu sei.
A mania de deixar tudo o que é bom demais pro final me fez perder a hora do parabéns.
Me restou apenas observar assoprarem as velinhas, de longe.
Nós não temos mais 7 anos.
O tempo corre diferente na vida adulta. Deixar um sentimento bom pro final pode significar comer comida azeda, passada, estragada. Pode significar não haver mais nada ali. Mas havia um bolo, eu sei.
A mania de deixar tudo o que é bom demais pro final me fez perder a hora do parabéns.
Me restou apenas observar assoprarem as velinhas, de longe.
Nós não temos mais 7 anos.
5 comentários:
Lindo post, Rachs. As vezes as coisas boas são tão esperadas que passam mais rápido do que nós gostaríamos. O bom da vida é efêmero, e continuamente perdemos o momento. "Quem sabe na próxima?!" tornou-se comum. Espero aproveitar melhor as pessoas melhores :)
Lindo post, Rachs. As vezes as coisas boas são tão esperadas que passam mais rápido do que nós gostaríamos. O bom da vida é efêmero, e continuamente perdemos o momento. "Quem sabe na próxima?!" tornou-se comum. Espero aproveitar melhor as pessoas melhores :)
Sempre muuito bom ler vc! Escrever é alívio imediato, né? Mais leve agora? ( Apesar dos docinhos e bolos...)
Texto lindo.
Lindo Rachel, como sempre você me emociona! Beijos...
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