3 de out. de 2013

Morno.

Eu existo. E então essa sensação de que eu sou um incômodo. Não consigo encontrar meu espaço, tenho a impressão de que cruzo as linhas, que estou páginas à frente. Queria conseguir fazer de outro jeito, não ser esse tipo de pessoa.  Mas então eu mergulho sem saber a profundidade das coisas, e vivo do risco de me afogar ou de bater a cabeça no fundo. Não importa, não importa mesmo.

Só sei jogar se for pra apostar todas as fichas. Pra levar o grande o prêmio. Quebrar a banca, sabe? Porque se for pra perder, eu deixo o meu coração na mesa (não é grande coisa, mas é o que há de mais valioso aqui). E seria fácil se eu saísse daqui sem coração algum, mas não funciona assim. Eu já tentei de tudo. Eu comi meu coração certa vez e ainda assim, nasceu outro no lugar. Igualzinho. Cheio de cicatrizes e batendo errado, cansado. Meu coração é tão mais velho que eu, o dobro, o triplo. Muitas vidas num curto tempo de ser.

É tanto existir que encontro meu rosto eventualmente sujo com lágrimas, a respiração truncada, as mãos sempre tremendo, as coxas úmidas. Olhos e coxas, sempre molhados. Eu sou um erro, meu bem. Daqueles que a gente para pra ver acontecer, porque os movimentos são tão leves e a queda é tão majestosa que é quase bonito.

Quando atinjo o chão, depois de perder tudo, é que me sinto acolhida. É no morno do meu sangue que encontro meu abrigo. No cheiro férreo encontro meu lugar.

Eu existo. Em mim.




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