18 de mai. de 2013

Inferno.

Ela não pode ser amada e eu a amo mesmo assim. Veja, um cara como eu não é de fato dado à esse tipo de situação. Eu acordo e visto meu uniforme (não é de fato um uniforme, é um terno. Mas me sinto assim, uniformizado, desfeito, igual. Um horda de ternos cinzas, pretos, azuis-marinho. Somos um mar de nada). Uniformizado, pego o ônibus até o metrô, o metrô até o lugar, atravesso o lugar e chego ao destino. Meu destino é minha cadeira no escritório e o café da manhã na empresa. Trabalho, trabalho, trabalho. Estou dignificado.

Não, não estou.

A existência dela me atormenta. Quando ela diz meu nome, no meio de uma frase qualquer e como mexe displicentemente no teclado de seu notebook. Eu vejo seus dedos percorrerem letras e penso em seus dedos em minha boca. Nunca estiveram. Eu não sei que gosto ela tem. Eu não posso saber. Desvio o pensamento e quando dou por mim, estou assoviando a nossa música. Nossa. Rio nervoso quando me dou conta do ponto em que eu cheguei, do tamanho do meu delírio.

Outra dose de uísque. Sem gelo.

Eu tenho dois relatório para amanhã e tudo oque eu consegui digitar foi o nome dela. Cem vezes, como se fosse castigo. Apago e recomeço e, com muita insistência, termino meu trabalho. Me deito e penso nela, nesse refluxo de amor que sinto, que me azeda a boca. Eu não achei que amar pudesse fazer tal mal. Mas ela não pode ser amada e eu insisto nesse erro. Durmo.

11:34 da noite

São semanas acordando no mesmo horário, ouvindo o telefone tocar. Não tenho telefone. Me mudei tem pouco mais de um ano e nunca mandei instalar, não sei se por preguiça ou porque não quero que me liguem. Ou porque não quis. Ou porque não me importei. Acontece que acordo assustado, com ele tocando. É a mesma repetição: barulho, abrir os olhos, 11:34 em números quadrados e vermelhos. Deve haver um significado místico, deve ser algum portal. Foda-se. Eu estou atormentado, eu sei. Porque acordo e a primeira coisa que penso é nela. São 11:34 e eu queria saber o que ela está fazendo. Dormindo com ele, é claro. Nos braços dele. Rebolando no pau dele. Idiota. Viro pro lado, vermelho de raiva (ou é a luz dos números do relógio. Eu não sei. Eu não sei de mais nada) e tento dormir.

6:00 da manhã.

A rotina recomeça, e eu imploro para que o sofrimento diário me purifique. Para que o amor morra afogado no mar cinza, para que eu sobreviva.
Porque eu a amo. E ela não pode ser amada.



Um comentário:

Alasca Young disse...

Me tocou de uma forma inimaginável, e deu uma baita vontade de ler mais sobre essa moça que não pode ser amada. Você tem muito talento, parabéns!