7 de abr. de 2013

Matryoska.


Quando criança (e isso já faz algum tempo. algum bom tempo) eu tinha essa brincadeira inventada, coisa de quem o que não tinha de amigos, tinha de curiosa. Eu escolhia um prédio qualquer, desses altos, que a gente vê de longe, e andava por entre as ruas. Me perdia, por assim dizer. Olhava as casas, as pessoas, o silêncio do subúrbio paulistano. Me apropriava desse território displicentemente. Via as outras crianças brincando enquanto catalogava mentalmente os lugares. Então, quando me cansava, procurava pelo prédio-referência e seguia em sua direção, conhecedora de novos caminhos que era.

Devia ser quase isso que sentiam aqueles que desbravaram os mares em busca de novos mundos. As ruas eram meu mar, o prédio meu Cruzeiro do Sul. Me perdia neste espaço familiar, para então me encontrar.

Depois de adulta, me perdi dentro de mim quantas vezes foi possível e mais. Esquecia de marcar o referencial e não conseguia voltar. Nunca mais estive duas vezes no mesmo lugar, não aqui dentro. As ruas por aqui se constroem o tempo todo, autônomas. Me descubro de tempos em tempos, pedaço por pedaço. E na incapacidade de memorizar as coisas, me recrio.

Nunca mais me encontrei, é verdade. Me fiz em tantas, muitas. Virei possibilidade.


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