2 de abr. de 2013

Fall.


Não reparei se as folhas já começaram a cair, apesar do outono. Mal percebi que eu mesmo estava desfolhando, na verdade. Esta cegueira transparente, que me deixa ver e não me deixa enxergar. É uma cegueira de sentimentos também, porque desfolho e não sinto, não vejo.

São os barulhos da rua e os papéis sobre a mesa e o tempo que eu não vejo correr. A singular primeira pessoa se deixa substituir pela terceira do plural. É a temperatura artificial desta sala. Porque gosto mesmo é tempo quente e úmido, mas me vejo aqui, nessa atmosfera controlada. Nessa luz sempre alva, nesse ar sempre gélido. 21°C , 18:30, 12º, 1201. Sensação,tempo e espaço. Eu não sei mais ao certo meu nome, mas nunca esqueço que toda manhã devo pegar o 944 e descer no terceiro ponto depois do Hospital.

Entendo o cara que acordou e se viu barata. É igual, mas sou árvore. Este tronco seco, estes galhos retorcidos. Minha cor pálida e a quase falta de vida. Quase. Porque no centro de tudo ainda existe algo correndo.  No profundo da terra ainda existem as raízes. No fim das contas, nada está morto ou perdido.

São os ciclos.

É outono.

Um comentário:

Samara Z. disse...

"São os ciclos"

lindo