A pia e minha carne, tingidas de vermelho.
Foi tudo planejado e havia um propósito, mas é no inesperado que moram as coisas valiosas. Ver meu sangue correr e escorrer fez com que eu me sentisse viva novamente. Era tarde. Minha boca não deu conta, se inundou de vermelho. Se eu soubesse que o viver me tomaria assim novamente, eu teria feito um corte menor, eu juro.
Na ânsia de não existir, a existência me preencheu. Senti meu coração pulsante. Pulsando e expulsando meu sangue e minhas angústias. Eu estava fria no antes e estarei fria no depois, mas agora eu sinto a febre dos que vivem. O canto da minha boca ensaia um quase-sorrir, porque achei que jamais sentiria isso novamente e deixo o sangue correr.
Meu corpo desliza pela parede, me sento tranquila no chão do banheiro. Estou viva, enfim. Ainda que o próximo passo seja morrer. Aproveito os minutos restantes para desenhar no azulejo frio um coração e meus olhos se enchem de lágrimas. Sangue e lágrimas, mornos, escorrem por mim.
E eu sorrio.
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