17 de jun. de 2012

Translúcida

Era um choro manso, daqueles que se você não prestar atenção, nem nota. Porque ela era dessas que falam baixo e não te olham nos olhos quando conversam. Era dessas que não se fazem ouvir.

Tudo estava ruindo ao redor e ninguém sabia. Ela chorava pra dentro, como quando pequena, debaixo dos berros da mãe que a mandava engolir o choro. E foi o que ela fez novamente: engoliu todo o choro e toda a dor, sozinha. Ninguém a via sangrar, de tão transparente que era. Olhos e sangue sem cor alguma, sem brilho, sem nada.

Ele quase tropeçou nela, porque não a via. Ou porque estava olhando pra outra. Nem percebeu quando ela correu pro banheiro pra se esconder, pra não ter que olhar. Pra não precisar lidar com a felicidade dele, pra engolir outro soluço de raiva e tristeza.

E ela chorou pra si e se inundou. Era então tudo premeditado, para que afogasse assim seu coração. Para que doesse menos.

Ela entendeu que quando se é sozinho no mundo desde sempre, a gente aprende a se virar. Aprende a fazer parar de doer, pra poder seguir em frente. Não tem café na cama e nem sopa quente em dias de febre e mal estar. É só você e a sua dor.

Só você.




2 comentários:

Anônimo disse...

Só uma palavra: Nhom!

Fê Gaban disse...

Duas palavras: nhóim e OUCH!

<3