1 de abr. de 2012
Barato bom é o da barata.
Há uma barata em meu ombro. Tal qual um papagaio, ela permanece. Ensaia uns passinhos tímidos e se assenta, confortável. Eu talvez devesse gritar em protesto, talvez devesse levantar as mãos para o alto e correr em círculos, estupefata. Mas olha como mexe as anteninhas, como farfalha as asinhas. Ela me parece tão certa de que ali é seu lugar, que acabo aceitando. Sigo a vida, eu e a barata em meus ombros.
Sei que as pessoas se perguntarão que tipo de pessoa eu sou, como me atrevo a sair por ai com uma barata no ombro. Que petulância a minha, elas diriam. Uma barata nos ombros. Ela não se enxerga? Não vê o quanto é desagradável? Mas é só uma barata, eu responderia.
Acontece que a ciência não explica os corações aflitos e mesmo plácida, a pequena barata incomoda o balanço das coisas. Desperta a inquietude que disfarçamos com um copo de café, impele nossa fala, que escondemos por de trás dos fones de ouvido. Tão pequena e tão pungente. E vejam bem, é só uma barata, vocês carregam fardos tão maiores em seus ombros. Tão mais feios e pesados. Carregam monstros sinceros, que fincam-lhes as garras e lhes garantem nunca mais sair daí.
E a problemática toda é a barata.
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Um comentário:
migz, texto perfeito. amei. parabéns.
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