Parabéns.

Adquiri o estranho hábito de viver anos em dias. Isso, de fato, deve fazer com que eu envelheça mais rápido. Não temo o tempo, não temo a morte, tampouco a sorte. No entanto, temo não viver tudo o que quero, ler as coisas, respirar tantos ares. A vida nos toma o tempo que gostaríamos de ter.

Não temo as rugas, as rusgas, os rasgos. Não temo os joelhos marcados, o coração reduzido à pó, o rosto sujo de lágrimas. Temo não sentir, não existir, não saber de mim. Temo que me falte tempo para me compreender, entender os fios brancos, as manchas nas mãos. Porque sou curiosa e quero saber o mundo.

Quero os mares, os silêncios, os suspiros. Quebrar os muros, as correntes, os portões. Quero teus olhos nos meus e a tua respiração pesada quando dorme. Quero as coisas que penso e desejo. Quero o que me apetece, me molha, me arde.

Quando Saturno retornar, espero estar por aqui ainda, com outros quereres. Temendo outras coisas, destemendo outras tantas, me contradizendo.

Que eu me desfaça, refaça, quantas vezes precisar. Este é o meu presente, para mim.

Feliz aniversário.