6 de set. de 2013

Mas existem jogos piores.

A luz entrou pela fresta da janela, me acordando. Direto no olho, cara. Eu, que já não acordo de bom humor, quis morrer um pouco, porque assim que os pensamentos se organizaram, a primeira coisa que pensei foi em você. Lembrei dos teus olhos, me olhando curiosos quando acordávamos. Você sabia que eu precisava do silêncio e só me acarinhava os cabelos e ia fazer café. Hoje só tem luz no olho e nenhum cheiro de café na casa.

Me arrastei pela cama, porque só me restou o carinho do lençol. Viu? Eu tinha razão em comprar esses lençóis caros, só sobrou o toque deles. Fico olhando o pó serpentear no feixe de luz. Tenho que levantar, tenho que pensar em outra coisa.

Um xícara só na mesa e eu quase sinto falta do seu silêncio pela manhã. Não consigo nem escolher o que ouvir. Você estragou tudo, todas as músicas que gosto e ouvi com você. Te odeio por isso, me odeio em dobro. Preciso tentar coisas novas então, sem ceder ao ímpeto de te ligar e te mostrar essa música nova, incrível, que eu sei, você também iria gostar.

Saio pra viver e as pessoas comentam sobre você, o tempo todo. Não é culpa delas, elas sequer sabiam que existíamos juntos, mas você cativou essa gente toda e eu tenho que sorrir e fazer de conta que você é um mero conhecido. Fiquei sabendo que você está bem, sorrindo e feliz. Bom pra você, bom pra você.

No almoço me dou conta que talvez eu tenha imaginado isso tudo. É que eu aprendi que a única verdade sobre alguém é aquilo que ela diz, e eu acreditei em cada palavra. Mas talvez eu tenha ouvido errado, entendido errado. Ou eu sou burra demais pra esses jogos.

Você é cruel. Eu estava em suas mãos e então nada mais fez sentido. Teus olhos tristes me enganaram e a comida não desce. Deixa, melhor assim.

A noite chega e eu não acho meu lugar. O sofá não é mais confortável. Tento de novo a cama e os meus lençóis caros. A fresta. Vou botar um pano ali, evitar o raio de sol. Eu nunca vou entender o motivo de ter te amado tanto. Mas era você. Era esse jogo desleal.

Azar. No jogo e no amor.

Um comentário:

Marcio Hasegava disse...

Belo texto. E, pelo menos pra mim, retrata algo pelo qual eu passei recentemente.