Eu acordo e ouço que sou linda, minha mãe não mentiria. Linda. Me arrumo e saio de casa, o trabalho me espera. Linda, dizem os olhos do cobrador do coletivo. Linda, linda, linda.
E no trabalho, do porteiro ao chefe, os sussurros não me enganam: linda. A servente do restaurante, a caixa, minhas colegas de trabalho, todas repetem para si: linda. A volta para casa não é diferente, ecoa pela cidade minha beleza, eles sabem: linda.
Quando saio, a história se repete, se multiplica, se desdobra em facetas reluzentes de si mesma, como num diamante extremamente bem lapidado: linda.
São meus olhos e meus cabelos e meu cheiro e o jeito como eu sorrio. São minhas pernas, minhas mãos e a forma como eu conduzo os diálogos. O jeito que eu bebo, o jeito que eu fumo, o jeito que eu danço. Eu não poderia ser mais linda, eles dizem.
Eu deveria estar contente sobre isso, mas tudo o que eu consigo sentir é o peso e essa sensação de quase maldição, como se nunca fossem enxergam além da minha boca, dentro do meu peito, onde corre todas as coisas incertas sobre mim, talvez não lindas quanto este par de seios, mas muito mais eternas, muito mais reais.
Linda, absurdamente linda.
Mas muito além.
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