2 de nov. de 2010

Dia de los muertos.

Eu penso em você hoje. É dia dos mortos e estamos vivos, nós dois. Eu penso em você.

Quando você foi embora, não chovia. Teria sido mais fácil se fosse assim. Mas fazia aquele maldito sol, aquele tempo fresco, aquela alegria morna, incontestável. Acho até que rolou um arco-íris no fim da tarde. Agradeci por ser ateu, mas de alguma forma odiei Deus e sua ironia. Um dia lindo e eu chovia. Agora tudo estava nublado.

Eu nunca mais soube de você, foi então que decidi :você estava morta. E todo dia 22 eu ia ao parque e deixava flores naquela mesa, onde você havia me deixado. Você estava morta, e eu sofri e chorei e vivi meu luto.
Voltava para casa e ouvia todos os nossos cds, cheirava todos os seus cheiros perdidos pelo meu armário: eles estavam cada vez mais rarefeitos. Você além de morta, estava desaparecendo. Como naftalina, você sublimou. E matou tantas coisas ao redor. Veneno.

Eu fazia de tudo para aparentar uma vida normal. As coisas precisavam ser feitas, e o gato não tinha culpa de nada e tinha de ser alimentado. A casa precisava ser limpa e eu tinha que trabalhar, comer, tomar banho. Era torturante viver. Eu entendi que a vida era menos sem o som de você andando pela casa ou escovando os dentes de manhã. Uma xícara só na pia. E eu choro.

Dormir era a parte mais desgraçada, não havia comprimido que me bastasse. Meu corpo exigia a presença do seu. Eu precisava do conforto das suas coxas. Eu sentia falta do seus gostos, todos. Eu sentia falta dos seus sons, quando gozava. Eu sentia falta de você molhada, em cima de mim. E agora, a única coisa umida por aqui são meus olhos. Caralho.

Hoje é dia dos mortos e eu penso em você. E você está viva.



2 comentários:

Gonta disse...

o primeiro de centenas.


just can´t wait.


ORGULHO !!!!!!!!!
<3

Anônimo disse...

Tem até sabor essa dor...