Fui convidado gentilmente pela minha amada R. para escrever um textinho, coisa miúda, de como não ser uó. Sim, este é um post "ele não tá afim de você, bicha". Prepare o KY.
Em geral, existem 2 tipos de gays: Os Desbravadores e os "Alices". O primeiro tipo, meio óbvio, é aquele cara que quer "curtir o momento". Se rolar, rolou. Se não rolar, tem boate na semana que vem, e seu corpo não será tão lembrado assim. E eles não descartam um relacionamento sério ou repetir a figurinha. Só há que se saber como levar. São pessoas menos afobadas, com coisas demais pra fazer durante a semana e não estão muito preocupadas com a cor do cocozinho que você fez de manhã. Não espere flores, bombons e declarações de amor. Ele quer explorar fronteiras. Não quer te explorar. Quer ver o que acontece, até o momento que ele cansar, ou conhecer alguém que valha, e sossegar o pinto/rabo em casa curtindo o maridinho.
Já as Alices, essas são perigosas. São apaixonadas, exageradas, fantasiam demais, floream demais, amam demais, bebem demais, sofrem demais... Em suma, são um misto de Maysa com Xuxa. Por falar na Rainha dos Baixinhos, eu acredito que a culpa do exagero seja por conta dela. Ela sempre nos ensinou como é bom sonhar. E as Alices levam isso muito a sério. Elas, ou melhor, eles, mal conhecem e já querem telefone, endereço, orkut e msn. Só pra começar o cadastro. Com o cadastro feito, começa o inferno.
Sua vida se torna um paredão do Big Brother Brasil. 47 milhões de ligações, 32 milhões de sms e 154 milhões de e-mails em apenas dois dias. No começo você até acha que é bacana, afinal, você está, gratuitamente, recebendo atenção de alguém. Então acha que rolou uma química legal, que até dá pra sair uma segunda vez, conhecer melhor, responder alguns e-mails, ligar no fim do dia pra saber como foi no trabalho, dar aquela atençãozinha, de leve, só pra marcar o terreno. Você vai até acreditar que dali a três meses pode acontecer algo bacana. Até perceber que ele também acha. E não só acha, como já tem certeza, pegou as chaves da casa de Araruama com a avó, e vocês vão passar o feriadão lá, celebrando o sentimento. Quando a Alice é esperta, rapidamente ela solta um "te adoro", pra nao assustar o rapaz, mas o intuito é sempre cagar tudo com um "Eu te amo", como se fosse "Oh Irmão, me vê uma Skol aí". Só que do fundo do coração. Pois Alice sempre tem um coração muito fundo. (pra ler ouvindo "From the bottom of my broken heart, da Britney)
A verdadeira alice não vive sozinha, apesar de achar que sim. Ele sempre tem algumas alices-amigas pra compartilhar estes momentos e ajudar a fantasiar. Imaginar a casa de cerca branca, as crianças, o avental sujo de bolo e o labrador que vai comer o jornal de domingo, enquanto todos correm atrás dele gritando pelo nome e rindo. Ai, que gozado! O "atual" da Alice sempre tem o melhor carro, o melhor apartamento, as melhores histórias e o maior pau. E aquele fim de semana? Ah, como foi ótimo.
As Alices só se acalmam quando ou fica bem claro, verbalmente, que ele não está afim (e mesmo assim, ainda fica aquela brasinha de churrasco queimando, até aparecer um novo infeliz, e o anterior se tornar "o falecido", "o imprestável" , "o pau pequeno"), ou quando aparece uma outra vítima.
Em geral, eles não entendem com delicadeza que não existe interesse. E sempre existem aqueles questionamentos chavões de pessoas demasiadamente carentes como "você ficou com outro?", "por que você não me ligou pra eu ir ao enterro da sua mãe?" e "quando você vai me apresentar a sua família?". Lógico, que tudo isso com apenas uma semana de conhecimento de território.
Alices do meu Brasil, aprendam: Ele não está afim de você, e provavelmente, o próximo também não estará. E nem o seguinte. E o seguinte do seguinte também não, enquanto você continuar sendo essa figura neurótica. Não se arruma namorado assim, nessa velocidade. E criar perfil em site de relacionamento dizendo "estou procurando um cara sério, por que eu ainda acredito no amor" é uma gafe tão grande quanto peidar em um jantar de gala no Copacabana Palace. Não se conquista ninguém assim, e amor não é algo que dá em árvores ou em bites. É questão de sair, conhecer gente, avaliar, não pegar no pé... resumindo, como se diz aqui no Rio de Janeiro, não pode dar moral.
Entendido?
Texto por João Márcio Dias
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